Centro Regional de Sangue do Porto
Porto, Portugal
- Arquitectos
- ARX Portugal Arquitectos
- Localização
- Porto, Porto, Portugal
- Ano
- 2004
O Centro Regional de Sangue do Porto é um edifício cuja principal função é servir de suporte a actividades de recolha e análise de sangue e sua subdivisão em três componentes (eritrócitos, plasma e plaquetas). Esses componentes são posteriormente distribuídos para os hospitais e indústria farmacêutica.Esta tipologia, de grande complexidade face a permanentes riscos de contaminação do sangue, é recente e pouco testada. Os avanços científicos e tecnológicos permanentes obrigam a adaptações constantes. É por isso um edifício com um interior instável, que sofrerá metamorfoses frequentes ao longo da sua vida.O programa é um processo sequencial (de desmontagem do sangue) tornando mais adequada uma construção linear ao baixo do que em altura, como sugerem as construções habitacionais que lhe são adjacentes (5/6 pisos).O Centro implanta-se numa parcela destacada da antiga Quinta do Covelo. Trata-se de um polígono irregular (11 lados) encaixado no miolo de um quarteirão, que comunica com a cidade por duas ruas distintas (R.Bolama e R. Visconde de Setúbal).
O ambiente é confuso e degradado, de traseiras dos mais de 20 lotes envolventes.O edifício-linha percorre as várias direcções do estranho polígono e procura a sua geometria. No seu aparente movimento, estabiliza sob a forma de segmentos de “estado“ variável: espesso e assente no terreno, laminar e flutuante ou complanar com o solo. Os extremos tocam delicadamente nas ruas: na R. do Bolama o edifício levita, construindo de forma evidente a permeabilidade da entrada principal (pública) e espreita sobre o muro do Parque do Covelo do outro lado da rua; no extremo oposto (R. Visc. Setúbal) toma a forma de um pórtico (de serviço), recuperando o antigo muro da quinta.Ao longo do seu desenvolvimento, o edifício oscila entre uma dominante sistematização de matriz tecnológica e subjectividades pontuais que resultam de impulsos espontâneos de reacção ao terreno.Construtivamente o edifício estratifica-se em materiais diversos em bruto: o granito local com que toca o chão, o aço galvanizado da pele, o vidro industrial das janelas, o zinco das coberturas e o contraplacado de forras inferiores.Não existe um vínculo definido entre o contentor e conteúdo: no exterior o desajuste vertical dos módulos de janelas revela que não há um alinhamento desejável em função de uma compartimentação determinada. No interior de materialidade contínua está subjacente o pressuposto de que os espaços podem ser construídos e reconstruídos ao longo do tempo. A luz natural é filtrada e constante (para os trabalhos laboratoriais), garantida com o recurso a bandas de vidro murolux que captam, atenuam e dispersam o sol de nascente e poente.
No interior do quarteirão o contacto visual com a envolvente desqualificada é recortado por estreitas e longas janelas transformando o ambiente caótico em tiras abstractas de vistas descontextualizadas.
O jardim inerte (paralelo e gravilha de granito e asfalto) desliga-se perimetricamente da envolvente, criando uma zona de abandono romântico para trepadeiras infestantes. Sobre o fundo cinza, toda a flora introduzida (árvores, sebes e trepadeiras) terá um outono de cor púrpura em consanguinidade momentânea com o universo programático do edifício.
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